Carlinhos Veiga
Algum tempo atrás fui convidado a dar um seminário sobre o tema “Louvor que enriquece”. Certamente havia um sentido dúbio nesse título. Naqueles dias uma revista evangélica estava denunciando os altos cachês que alguns cantores do nosso meio estavam exigindo. Não pretendo tratar aqui sobre o tema “Cachê ou oferta”.
Talvez seja assunto para uma conversa futura. Porém, gostaria de sugerir uma pergunta em contraste com o título desse artigo: É possível existir um louvor que empobrece? Eu particularmente creio que vivemos dias onde isto é bem possível.
Primeiramente é necessário caracterizar que tipo de riqueza pretendo abordar. Não estou falando de riquezas materiais, financeiras, acúmulo de bens. A riqueza à qual me refiro é a rica presença de Deus, que enche a nossa vida de sentido, por intermédio do seu Santo Espírito. Vida dedicada a Ele, regada por sua presença. Essa riqueza muitos têm buscado, mas não encontrado.
Em Apocalipse 3, a partir do verso 14, encontramos a carta escrita à igreja de Laodicéia. Há uma referência muito séria no verso 17 acerca daquela igreja. Deus a condenava porque a mesma se achava auto-suficiente. Grande parte da riqueza e destaque conseguidos por aquele povo era devido à sua produção de uma lã preta, especial e dos grandes avanços medicinais que possibilitaram o desenvolvimento de uma pasta própria para os olhos. Eles se agarravam a isto como sua segurança. Deus diz que, por essa razão, estava a ponto de vomitá-los de Sua boca (16). Assim como uma comida estragada, passada, faz mal ao nosso corpo e o próprio organismo se encarrega de expeli-la, aquela igreja provocava náuseas em Deus. Ela fazia mal ao Senhor, dando-lhe ânsias de vômito. Por qual razão? Por que ela se achava rica e abastada (17) e dizia não precisar de coisa alguma. Nem mesmo do Senhor precisava. Confiava em si mesma, nas suas posses. Em contrapartida, Deus diz que há outra riqueza muito mais importante que devemos buscar insistentemente. Do verso 18 em diante, vai mostrando a realidade àqueles irmãos. A riqueza que vale a pena e que constrói fundamentos seguros para o futuro não é adquirida pelo dinheiro. A verdadeira riqueza está no ouro refinado pelo fogo, nas vestiduras brancas e no colírio que limpa os olhos espirituais do homem. Retidão, santidade e visão espiritual.
O louvor que temos oferecido ao Senhor tem enriquecido a Igreja ou tem empobrecido a Igreja? Essa é a grande questão. Que tipo de louvor empobrece?
Em Isaías 1, versos 15 a 17, encontramos um louvor assim. O povo de Judá e de Jerusalém continuava se reunindo para louvar o Senhor através das festas santas de adoração e louvor. Porém, apesar das práticas litúrgicas, estavam longe e distantes de Deus. Os versos 11 a 14 nos revelam que o Senhor já não suportava mais aquelas práticas, pois eram uma provocação. Traziam suas ofertas com o coração cheio de pecado. Não havia louvor, nem tão pouco adoração. Eram práticas religiosas ocas, esvaziadas de temor e santidade.
Aqui encontro o louvor que empobrece. Antes, concluo que louvor que empobrece não é louvor. É coreografia religiosa, é liturgia hipócrita, é apenas forma. Podemos cair em sério risco, quando substituímos o sentido da adoração apenas pela forma. Quando o que nos motiva a estarmos na presença do Senhor é algo que não o Senhor. Às vezes substituímos nossa adoração pela liturgia, quer seja a coreografia ensaiada e vibrante ao som de bandas e ritmos atuais, quer seja a liturgia tradicional movida a órgãos de tubo, corais e becas. O problema não está na forma, como alguns pensam, mas quando adotamos a forma como o sentido da adoração, quer seja ela contemporânea ou tradicional. Quando agimos assim, via de regra, trazemos diante de Deus atitudes incoerentes: atos de louvor em uma mão e iniquidade em outra.
“Pelo que, quando estendeis as mãos, esconde de vós os olhos” (15).
Nenhum comentário:
Postar um comentário